Monday, September 19, 2005

Um pouco de bola

Em pequeno não ligava para futebol.
Não é que não gostasse. Não ligava. Mais tarde passou a coisa de quem não tinha mais do que pensar. E para mim só existia aquele gostar fanático de quem só vê o seu clube.

Hoje sou um homem diferente.
A culpa foi da nossa selecção. Ali não havia só clubes, mas toda uma cultura. A nossa. De novo fazíamos parte do mapa mundo. Todos torcíamos para o mesmo lado, quando estava em Portugal. E quando me encontrava no estrangeiro, muito me orgulhava que soubessem de onde vinha.
Encontrava-me em Paris quando ganhámos 3-2 à Inglaterra. Não me contive: saí à rua feito tolo à procura de outros compatriotas. E celebrámos. E fui celebrando, sofrendo e chorando as dores da nossa equipe.
E foi assim que o Futebol passou a cultura, a arte.

Agora compreendo. Vejo que o optimismo popular e económico está muitas vezes ligado às nossas equipas. Do nosso bairro, da nossa cidade, do nosso país. Gosto da euforia que nasce expontâneamente por mais uma vitória dos nossos. Gosto de me sentir criança, feliz apenas por coisas boas acontecerem.
Este é o melhor espectáculo do mundo até porque muita gente acha que este é o melhor espectáculo do mundo. E pronto. Tanta gente não pode estar enganada. Do mais simples ao mais erudito.
Também a ópera foi em tempos cultura popular, ignorada pelas elites. Tenho hoje muito mais respeito pelas culturas populares. Porque movem as massas. Porque movem países. Porque me move a mim, mas não me movo sozinho.
Porque me comove, mas não me comovo sozinho.

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