San Sebastian
Entro num bar, há sempre bares abertos e sempre gente que os frequenta, e deixo-me arrastar por essa sensação reconfortante e ilusória que só o balcão de um bar espanhol pode transmitir: a sensação de fazer parte de alguma coisa ou de pertencer a alguém.
Uma velha senhora a quem não perguntei nada aproxima-se e tenta levantar-me o moral: "Que pena, apanhou um dia de chuva." Respondo-lhe que gosto mais da cidade com chuva. Os olhos iluminam-se, é elegante e discreta. Diz-me em tom confidencial: "Sabe, não há cidade mais bonita no mundo. Nem Rio, nem Nápoles, nem São Francisco. Conheci-as todas, nos meus tempos."
A velha senhora paga o seu vermute, paga o meu cava sem me avisar, e vai-se embora como o sorriso da juventude recordada. Eu procuro de novo a Concha, quero compará-la com São Francisco, com Nápoles, com o Rio, todas elas cidades debruçadas sobre baías que recolhem um pedaço de mar. E com as cidades de mar, e de portos, e de partidas, com as cidades abertas do mundo inteiro a jogar com o meu instinto desassossego, sento-me uma última vez na marginal que anoitece.
O Inverno em San Sebastian,
por Gonçalo Cadilhe
Uma velha senhora a quem não perguntei nada aproxima-se e tenta levantar-me o moral: "Que pena, apanhou um dia de chuva." Respondo-lhe que gosto mais da cidade com chuva. Os olhos iluminam-se, é elegante e discreta. Diz-me em tom confidencial: "Sabe, não há cidade mais bonita no mundo. Nem Rio, nem Nápoles, nem São Francisco. Conheci-as todas, nos meus tempos."
A velha senhora paga o seu vermute, paga o meu cava sem me avisar, e vai-se embora como o sorriso da juventude recordada. Eu procuro de novo a Concha, quero compará-la com São Francisco, com Nápoles, com o Rio, todas elas cidades debruçadas sobre baías que recolhem um pedaço de mar. E com as cidades de mar, e de portos, e de partidas, com as cidades abertas do mundo inteiro a jogar com o meu instinto desassossego, sento-me uma última vez na marginal que anoitece.
O Inverno em San Sebastian,
por Gonçalo Cadilhe
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