Sunday, June 04, 2023

AI PHOTO

Entramos na nova era da fotografia

A câmara agora proposta por Bjørn Karmann não tem objetiva, tem um sensor de espaço e de localização, ligados a uma "inteligência artificial" que gera a imagem. Segundo o autor: "As AI models are increasingly becoming conscious, it will be hard to imagine how they might see our physical world. The camera offers a way of experiencing the world around us, one that is not limited to visual perception alone. [Providing deeper insight] into the essence of a moment through the perspective of other intelligences." Podem experimentar uma versão virtual da câmara em: paragraphica.bjoernkarmann.dk +info: Project Paragraphica

By Nelson Zagalo 


A lição mais invisível desta máquina fotográfica sem objectiva não é sobre inteligência artificial mas sobre a fotografia. Esta ainda é tida como algo de autêntico ou de verdadeiro. A luz a passar pela objectiva e a ser registada por um material sensível são vistos como uma última trincheira na defesa de uma percepção pura, não construída e não simulada. O que esta máquina «cega» mostra é a arbitrariedade do dispositivo fotográfico. Mostra o que tem de construção e de simulação.

As objectivas fotográficas mais comuns foram escolhidas porque delas resultavam imagens que se assemelhavam às produzidas pela perspectiva linear desenvolvida durante o renascimento. Podemos especular o que seria a disciplina da fotografia sem a invenção da perspectiva linear. 

Talvez se tornassem dominantes os dispositivos de tilt shift, que deslocam a objectiva enquanto registam a foto. As pessoas e edifícios parece que ficam miniaturizadas, assemelhando-se um pouco às pinturas de Bosch ou Brueghel. O Tilt Shift mostra o que poderia ser talvez uma fotografia medieval. Ou então, mantendo-nos no campo da especulação contrafactual, imagine-se que nos primeiros tempos da fotografia só se tinham desenvolvidos produtos químicos que registravam a gama dos infravermelhos. A fotografia seria então Termografia. Imagine-se imagens nocturnas de corpos e objectos quentes.

Voltando ao nosso universo depois desta incursão por fotografias alternativas torna-se visível a artificialidade do dispositivo fotográfico, o seu carácter de construção cultural. Percebemos por exemplo como a fotografia não é neutra mas foi afinada para reproduzir corpos brancos. Percebemos que a fotografia não corresponde exactamente ao espectro do que um humano vê, nem em termos de gama de tons, de enquadramento, ou de cor. Nos últimos anos, houve um movimento bastante interessante e politicamente crucial para desconstruir a fotografia à luz (perdoem-me o trocadilho) da imagem digital. Um livro muito interessante é o "Forget Photography", de Andrew Dewdney.

By Mario Moura 

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