Thursday, September 18, 2025

Redford

Tinha 13 anos quando o vi em África. Recordo o meu fascínio de menino encantado, a ideia de que poderia ser como ele, aventureira solitário e idealista, bonito e sedutor, livre e ferozmente descomprometido. Vi-o a lavar o cabelo de uma mulher que se abandonou para que ele lhe arrebatasse a pele. Nunca tinha visto um homem assim, quase feminino sendo tão masculino, um homem que enlouquecia as mulheres por ser o que os outros não eram. Forte, mas romântico.

Caçador de leões, mas com uma indefinível doçura. Egocêntrico, mas disponível para olhar as estrelas. Eloquente, mas silencioso. A mulher bonita, casada e triste, a que se abandonou a uma promessa de felicidade, chamava-se Karen. E ele, o que na adolescência eu desejei ser, era Denys. Respondia por esse nome sem mais nada ser necessário, apelido, referências, amores passados ou perdas. Nada de nada, apenas um nome que para os gregos significa a "noite e o dia" ou o "céu e as águas", somente Denys. Custa a acreditar que morreu. Custa a crer que não tenha acordado ontem para tomar o pequeno-almoço na sua quinta em Utah, uns ovos mexidos com tostinhas gourmet que seriam levadas num tabuleiro à sua confortável cama de príncipe do cinema. O velho caçador de almas que eu há mil anos achei poder imitar, o senhor Robert Redford, um ícone que ontem não quis interromper o sonho em que, como por magia, voltara ao riacho onde um dia lavou o cabelo a uma mulher que ainda o espera numa África seguramente nossa.

Por Luís Osório, Escritor

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