Saturday, January 31, 2009

Marinho

Era uma vez um menino que nasceu cego para as coisas da terra. Só via o mar e o que nele havia. Sabia caminhos nas águas, carreirinhos. Dava nome às ondas, de uma em uma. Dizia: a luz nasce no mar e não dos astros. A claridade lhe chegava do azul, ainda molhada.

O pai parecia nem dar conta da estranheza de seu filho. Aceitava. Mesmo decidira puxar a cabana mais para junto da rebentação. Prendas que o miúdo lhe trazia: conchas, búzios, brilhos da maresia.

Mia Couto in Cronicando.

1 Comments:

Anonymous Alessandro Moisés said...

Olá, não sabes o quanto que lutei na internet para achar este conto do Mia Couto. Vi uma vez num documentário (Além-mar) narrado por Maria Bethania.

Mas lá, só dizia que era um texto do Mia Couto, sem indicar nome do conto ou livro...

Maravilha, e muito obrigado!!!

10:33 PM  

Post a Comment

<< Home