Vida Louca

Parte da loucura que foi a minha infância vive até hoje na casa dos meus pais no sul. Um dos símbolos de todo esse caos parte de uma premissa muito simples: não se pode furar as paredes ! Para não estragar a casa, estragamos a vida...

Ou seja, tanto que seria simples torna-se um inferno ! Não há espelhos nas paredes, ou estão no chão ou em gavetas. Às vezes tentam colar, usar ventosas ou outros sistemas mas todos acabam por ir parar ao chão, inteiros ou em pedaços. O mesmo com fotos, quadros, casacos, toalhas, frascos, e até varões, cortinados ou prateleiras. Ter prateleiras no chão debaixo de marcas da cola na parede acima, ver os cantos cheios de artigos que podiam estar arrumados e à mão, andar com o pano na mão à procura de um simples gancho onde pendurar tudo e qualquer coisa... mas nada. Por vezes ainda vemos um quadro novo na parede, mas apenas até ao dia em que um estrondo nos acorda para a força da gravidade que superou a supercola, e é mais uma relíquia que nunca mais volta a ser vista acima dos joelhos. Sem querer, chutamos ou pisamos o mundo que devia estar ao nível dos olhos ou ao alcance das mãos. O mundo ali podia ser muito mais fácil, mas isso não seria a casa da minha infância...