Friday, March 10, 2006

1920-1940 Livros do Séc XX

"Se existem vintenas de anos importantes durante o século xx esta é com certeza uma delas. Senão atente-se no seguinte: entra-se de uma vez por todas na modernidade, os hábitos de vida alteram-se radicalmente, os estúdios de Hollywood passam a utilizar o som e solidificam-se como indústria. Mas não é só: o grande crash americano de 1929 leva grande parte do mundo a uma recessão económica e provoca a ascensão dos nazis na Alemanha.

Logo no início de 1921, Luigi Pirandello, um italiano conhecido como prosador, descobriu a sua vocação teatral, especialmente através da obra Seis Personagens à Procura de Autor, que colocou em causa o mito da representação naturalista. A obra, que foi um fracasso na estreia, acabou por ser encenada por grandes vultos do teatro, como Max Reinhardt e Bernard Shaw.

O ano de 1922 vai ficar na história da humanidade por muitos milhares de anos, pois é lançado O Significado da Relatividade, de Albert Einstein. A obra, que é composta por quatro conferências proferidas pelo autor, procura explicar as suas ideias, que vieram revolucionar radicalmente as bases da velha física newtoniana.

No mesmo ano em que Einstein publica as suas conferências em livro, James Joyce leva finalmente às bancas, em Paris, o Ulysses. O livro, que retrata a experiência de três personagens — Leopold Bloom, um judeu francês, e a sua mulher adúltera, Molly Boom, e um escritor francês, Stephen Dedalus —, consegue ser brilhante pela forma como acompanha o universo de cada um deles, através da técnica corrente de consciências, que tenta reproduzir as oscilações constantes das personagens.

Também na capital francesa, embora dois anos depois, é publicado o Manifesto do Surrealismo, de André Breton, que marcou de uma forma profunda o surgimento dos surrealistas franceses. O surrealismo de Breton manter-se-ia fiel à liberdade e à independência.

Também em 1924 Thomas Mann publica A Montanha Mágica, para muitos o melhor romance do século xx. É um livro angustiante, centrado no dia-a-dia de um sanatório e interpretado por um personagem crente nos valores positivos da vida, mas que será envolvido pelo turbilhão da guerra.

Do outro lado do Atlântico, mais precisamente em Santiago do Chile, é editado, no mesmo ano, o livro referência do grande poeta Pablo Neruda intitulado Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada. Foi, à semelhança de Breton, um dos grandes impulsionadores do surrealismo.

Um ano depois, no coração da Europa, mais precisamente em Munique, o ex-presidiário Adolf Hitler publica a sua inocente autobiografia (escrita durante os dois anos que esteve preso por tentativa de golpe de Estado) intitulada A Minha Luta. Nesse seu livro, Hitler define as razões da crise económica alemã (os judeus) e lança as sementes para um dos períodos mais sangrentos e vergonhosos da civilização: o nazismo.

Também na Alemanha e no mesmo ano é lançado O Processo, de Franz Kafka, que ainda hoje identifica as angústias do homem moderno: as sensações de beco sem saída e de absurdo. E o que impressiona é que 73 anos depois o tema kafkiano é cada vez mais actual.

Em Bruxelas, no ano de 1931, nasce Tintin. O autor, Hergé, publicava o primeiro álbum, intitulado Tintin no País dos Sovietes, onde o repórter Tintin, sempre acompanhado pelo seu Milou, vive a sua primeira aventura.
Também em 1931, mas em Londres, Virginia Woolf publica As Ondas, um dos livros que, como acontece em Ulysses, de James Joyce, utiliza a corrente de consciência nas personagens.

Numa linha completamente diferente surge, em 1932, a grande obra de Aldous Huxley intitulada Admirável Mundo Novo. Nela, o autor imagina uma sociedade a 600 anos de distância onde a história e a família foram abolidas e os seres humanos são condicionados na inteligência.

Em 1936, no coração de Nova Iorque, John Keynes leva às bancas o livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, considerado por muitos o economista mais influente do século xx.

Se exceptuarmos a Bíblia, o livro mais vendido ainda hoje nos Estados Unidos é E Tudo o Vento Levou, de Margaret Mitchell, que foi lido pela primeira vez em 1936. Como amplamente se sabe a história centra-se na personagem Scarlett O’Hara, que se transforma de menina mimada numa mulher de coragem e determinada.

Bertolt Brecht, em 1938, maravilha-nos, duma perspectiva marxista, com o livro Mãe Coragem e os Seus Filhos, que narra as aventuras de uma mercadora que percorre várias frentes de guerras na vã esperança de arranjar dinheiro, acabando por perder os seus filhos.

Um ano depois, em 1939, John Steinbeck lançaria aquele que é considerado um dos livros marcantes do romance norte-americano: As Vinhas da Ira. De uma forma subtil e sensível, embora violenta, Steinbeck relata a pobreza do proletariado e as injustiças sociais no período de depressão económica. O livro, que serviu de grito mudo para muitos trabalhadores, chegou a estar proibido em muitos estados norte-americanos.

Em 1940 é Ernest Hemingway que retrata a Guerra Civil de Espanha e a luta contra o franquismo, através da obra Por Quem os Sinos Dobram. Notável pela vivacidade descritiva, a obra coloca em relevo o papel insubstituível do heroísmo individual (do personagem Robert Jordan) e do sacrifício de um homem em nome de um ideal que o ultrapassa.

O brasileiro Carlos Drummond de Andrade lança o livro Sentimento do Mundo em 1940, representando a maturidade lírica e uma sabedoria angustiada e serena. É, sem dúvida, um dos casos mais bem conseguidos de poesia carregada de emotividade e de sentido lírico."

Os 100 Livros do Séc XX

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