Monday, April 14, 2008

Schopenhauer por miúdos

O riso é o produto da percepção súbita de uma incongruência entre o que esperamos que a realidade seja e aquilo que ela de facto é.
Quanto maior e mais inesperada fôr essa incongruência, mais violento será o riso.

Ricardo Araújo Pereira citando Schopenhauer a propósito de Woody Allen.

Friday, April 11, 2008

Uma vaga ideia



Cornwall Film Festival

Divagações

Chegar lá fora é o mais difícil.
Ou o mais divertido, conforme a perspectiva. Não dá para contornar, temos mesmo que passar pela espuma até chegarmos a zonas mais límpidas e líquidas. A opção é mergulhar fundo ou passar por cima. e ir remando o resto do tempo. Como na canoagem, não há só águas paradas. Sabemos que vamos atravessar aqueles rápidos e a solução é entrar em sintonia com águas e correntes. E ir remando o resto do tempo.

Enquanto remamos estamos sempre ao nível do mar. Ou abaixo. Cada onda cobre-nos o horizonte e cada mergulho leva-nos a outros mundos. Como crianças, nadando e pulando até ficar tudo plano... Chegámos.
Lá fora, depois dos mergulhos tudo é água, tudo é igual. ou parecido.

Aí devemos situarmo-nos. Olhar para terra, quão longe estaremos?, e olhar para o mar. Ver, perceber, sentir, pressentir... Mas presos à linha do horizonte, poucas alternativas há para nos erguermo-nos: talvez alguma onda passe e nos leve ao cimo da sua crista. ou algum milagre nos ponha de pé sobre aquela pequena tábua branca. Por isso remamos de cabeça erguida e sentamo-nos esperando.
E esperamos...

Que uma onda surja, que a consigamos apanhar e que nos consigamos pôr de pé. Que possamos caminhar sobre as águas como num destino bíblico, atravessar o mar por dentro e subir lá acima, ser o ponto mais alto deste oceano e voltar a descer... Passear por estas conjunções cósmicas que nos carregam e nos recarregam com a sua boa natureza.
Cada instante de pé sobre o oceano para mim é um milagre.

Não se preocupe.
Você vai molhar a sua cabeça. Conte com isso, e ainda bem.

Alice in Wonderland



Rachel Weisz by Annie Leibovitz for Disney

O mundo é um livro

O mundo é um livro e aqueles que não viajam lêem apenas uma página.

Santo Agostinho, Bispo Católico. 354-430 Tagaste, Argélia

A pena

Daqueles que se estão nas tintas para o habitual périplo turístico nova-iorquino: a visita ao MoMA e ao Met, o brunch no Pastis, as lojas da Quinta Avenida, o gospel no Harlem ou ir cortar o cabelo à Greenwich Village. Ao contrário, preferem acompanhar-nos no jogging diário ao longo do East River e ver do lado de Brooklyn, iluminado pelo sol de nascente, o recorte da velha fábrica de açúcar; preferem um jogo de gamão numa decadente casa-de-chá em Chinatown; preferem o diner escuro e o carrot-cake ao restaurante no Soho com o coulant de chocolate. E acima de tudo não se importam de perder horas numa livraria de bairro.

O Vontade Indómita escreveu sobre os prazeres banais que as grandes cidades nos proporcionam. Amo sentir e viver as cidades que nos fazem sentir bem, para além do óbvio. Quando já as visitei o suficiente para parar, sentar-me e simplesmente deixar-me estar... aí sim, valeu a pena.