Chegar lá fora é o mais difícil.
Ou o mais divertido, conforme a perspectiva. Não dá para contornar, temos mesmo que passar pela espuma até chegarmos a zonas mais límpidas e líquidas. A opção é mergulhar fundo ou passar por cima. e ir remando o resto do tempo. Como na canoagem, não há só águas paradas. Sabemos que vamos atravessar aqueles rápidos e a solução é entrar em sintonia com águas e correntes. E ir remando o resto do tempo.
Enquanto remamos estamos sempre ao nível do mar. Ou abaixo. Cada onda cobre-nos o horizonte e cada mergulho leva-nos a outros mundos. Como crianças, nadando e pulando até ficar tudo plano... Chegámos.
Lá fora, depois dos mergulhos tudo é água, tudo é igual. ou parecido.
Aí devemos situarmo-nos. Olhar para terra, quão longe estaremos?, e olhar para o mar. Ver, perceber, sentir, pressentir... Mas presos à linha do horizonte, poucas alternativas há para nos erguermo-nos: talvez alguma onda passe e nos leve ao cimo da sua crista. ou algum milagre nos ponha de pé sobre aquela pequena tábua branca. Por isso remamos de cabeça erguida e sentamo-nos esperando.
E esperamos...
Que uma onda surja, que a consigamos apanhar e que nos consigamos pôr de pé. Que possamos caminhar sobre as águas como num destino bíblico, atravessar o mar por dentro e subir lá acima, ser o ponto mais alto deste oceano e voltar a descer... Passear por estas conjunções cósmicas que nos carregam e nos recarregam com a sua boa natureza.
Cada instante de pé sobre o oceano para mim é um milagre.
Não se preocupe.
Você vai molhar a sua cabeça. Conte com isso, e ainda bem.