Slideshows
Ao tentar uma crítica do hábito de filmar concertos com o telemóvel, o cartoonista Ivan Ehler produz uma descrição perfeita para os velhos filmes e fotos de família da era pré-redes sociais. Tremidos, só raramente vistos ou mostrados.
Como reflecte Ben Burbridge, o instântaneo de família possuía “um carácter paradoxal enquanto formato ao mesmo tempo ubíquo e escondido. As fotografias de família eram habitualmente consumidas em álbuns por pequenos grupos e por familiares. As imagens da família tornavam-se públicas através do formato muito mais controlado do retrato, que providenciava uma face exterior para o reino doméstico.” (Photography After Capitalism)
Gravar concertos por telemóvel é ridicularizado por não ser uma experiência autêntica. Ironicamente, parece-se muito com a experiência, tida como mais autêntica, de documentar a vida familiar através de instantâneos tremidos e que pouca gente queria ver.
Havia até um género inteiro de humor construído à volta de ninguém querer assistir a filmes ou slideshows de férias. Numa velha anedota das Selecções do Reader’s Digest, a diferença entre o Céu e o Inferno é que no primeiro vagueavam pessoas a falar dos bons velhos tempos e de como tudo era melhor quando estavam vivos. No segundo, podiam levar slides.
Um efeito secundário pouco comentado da imagem em rede é ter-nos tornado mais tolerantes à fotografia de férias alheia. Muitos ainda se queixam. São cada vez mais raros os queixosos que não publicam as suas próprias fotografias de férias.
Por Mário Moura